Trigésimo terceiro dia – Sobre arte e sentimentos

A minha terapeuta (beijo, Paula) costumava dizer que eu deveria escrever todos os dias. Que esse hábito eventualmente me faria terminar a monografia. No final das contas, foram diversos fatores, cobertos pelo medo de ser jubilado, que me levaram ao fim da faculdade.

Mas eu tentei dar ouvidos ao insistente conselho, por isso criei o Dez Minutos Por Dia. Acabou virando uma baita terapia e tem me ajudado a colocar algumas coisas pra fora. Continue Lendo “Trigésimo terceiro dia – Sobre arte e sentimentos”

Trigésimo segundo dia – Queria ser cientista da Nasa

Acho que boa parte das pessoas, quando criança ou adolescente, acabam ouvindo a seguinte pergunta: o que você quer ser quando crescer?

Tirando o absurdo que é questionar alguém que não faz ideia do que sejam impostos, salário, custo de vida, sobre aquilo que ela quer fazer para o resto da sua existência, essa pergunta é bem comum.

Pois bem, eu queria ser Cientista da Nasa. Eu não fazia a menor ideia do que isso realmente significava em sua profundidade. Sobre precisar entender de física, matemática, química, biologia, etc, tudo para ter uma profissão que parecia ser legal…

Sou Técnico em Instalações Elétricas industriais. Sério. Cheguei a cursar uns 3 períodos de Engenharia na Universidade do Estado do Amazonas.

Atualmente sou Bacharel em Direito e Servidor Público. O detalhe é que eu fiz o concurso em 2005 e fui chamado em meados de 2007, alguns meses antes mesmo de começar a faculdade de Direito.

Sou do interior do Amazonas, uma cidade chamada Manacapuru. E eu queria ser Cientista da Nasa. Ou Médico. Sim, já prestei vestibular para Medicina.

Ah, queria ter como segunda graduação Ciência Contábeis/Contabilidade. Ou psicologia. Mas já pensei em Filosofia também.

Ok, já joguei um monte de informações e tá na hora de explicar alguma coisa.

Boa parte dos seus planos, torço para que não seja a maior parte, não vão dar certo. Ou vão acontecer de forma que não era esperada. Ou vão resultar em coisas completamente diferentes.

Eu passei em Engenharia ao mesmo tempo que havia uma chance de virar Sargento da Aeronáutica (longa história). Mas acabei optando pelo Curso Superior e 2006, época aproximada quando isso aí em cima aconteceu, foi o pior ano da minha vida. Pra compensar, em 2007 eu entrei em Direito, passei/fui chamado num concurso, comprei um carro e cometi um dos maiores erros da minha vida.

As coisas na vida vão acontecendo e não há nada que você realmente possa fazer além de: 1. Fazer planos; 2. Seguir em frente.

Mesmo que seus planos não se realizem, eles costumam ser um combustível para novas ideias e para te manter em movimento.

Não ficar parado é sempre/normalmente uma boa escolha. Claro que existem várias formas de não ficar parado. Como escrever textos diários sobre a vida, no lugar de apenas deixar os pensamentos conflitantes dentro de você…

Então, encerrando por hoje, ficam os questionamentos: o que você queria ser? O que você se tornou? E, se você pudesse mudar algo, o que seria?

Trigésimo primeiro dia – Até o espírito da escada morreu

Para quem não conhece, a expressão “O Espírito da Escada” é resumidamente a sensação de descobrir um argumento, ou resposta perfeita para alguma discussão, após já ter passado a oportunidade.

Eu a conheci com Sandman e o contexto usado foi perfeito; um dos personagens acaba discutindo com o outro num apartamento e vai embora descendo as escadas e durante os quadrinhos ele pensa numa solução melhor para o conflito que estava se passando.

Acho que, em parte, a culpa é do fato de já ter passado MUITO tempo discutindo na internet… isso meio que matou boa parte da minha vontade de falar. Eu já realmente escrevi bons textos ou respostas e percebi que não iria fazer a menor diferença postar aquilo. Inclusive mais de uma vez já apaguei textos daqui.

Recentemente acabei ouvindo uma discussão sobre corrupção e cogitei me intrometer apenas para citar a legislação sobre o tema, dizer que existe diferença entre falta administrativa e crime (a conversa girava em torno do argumento de que um servidor público que falta ao trabalho está cometendo corrupção também), mas eventualmente percebi que isso não iria realmente agregar nada para aquelas pessoas.

E isso é porque atualmente acredito que boa parte das pessoas acabam cheias de certezas por alguma razão que não consigo compreender. Meio complicado de entender, eu sei.

Talvez seja a religião, talvez sejam todas as informações que nos bombardeiam diariamente, pode até mesmo ser por causa da nossa criação (só lembrando que você não é metade da pessoa especial que a sua mãe te diz).

O que realmente me faz diminuir a quantidade de coisas que eu digo é o fato de saber que não faz diferença para boa parte das pessoas que estão aqui para ouvir. Isso também acaba por me tornar mais seletivo nas minhas conversas.

A vantagem é que até as pessoas com quem acabo me relacionando são aquelas que quero ouvir. Caso isso possa ser considerado alguma vantagem.

Trigésimo dia – Dois fungos entram num bar…

Ontem comecei a última temporada de Orphan Black, sem saber que ainda está sendo exibida e agora preciso acompanhar os episódios toda semana… vai ser um exercício de paciência e dedicação. Talvez um aquecimento para a terceira temporada de Mr. Robot.

Eu particularmente prefiro fazer maratona de séries. Sentar pra assistir e não parar até não ter mais com o que me preocupar. Até o ano seguinte.

O título de hoje tem relação com um diálogo de dois cientistas sobre fungos num queijo “discutindo religião”. Eles debatem sobre qual seria a origem do queijo, se este teria vindo da bandeja onde se encontravam, ou se havia vindo do céu, mas nenhum deles chega a imaginar uma vaca.

Particularmente achei um ótimo diálogo e só me fez pensar no quanto as coisas precisam estar alinhadas para darem certo. Ou terem um resultado mínimo satisfatório.

Eu só gostaria de escrever hoje sobre o quão desmotivado fico ao ser incumbido de uma tarefa que não faz sentido, ou não existe razão para ela ser feita daquele jeito.

Tenho que emitir um relatório para um planejamento ficcional, com datas de um cronograma que nunca é seguido, além de já ter sido modificado informalmente, citando valores que provavelmente serão alterados, com informações que tive de estimar/chutar. Estou há alguns dias nisso e minha vontade de continuar só vai diminuindo…

Eventualmente vou terminar essa tarefa, porque ser adulto é fazer aquilo que te mandam fazer, mesmo que não entenda, porque precisamos do salário pra pagar Netflix.

PS: Como disse no começo, costumo fazer maratona e acho uma merda que fica postando spoiler de série.

Vigésimo nono dia – A sua história é um grande mashup

Para começar, acho importante definir mashup. É algo como uma música construída de duas ou mais outras músicas já existentes. Não é como o remix, que é uma releitura de uma música apenas.

Particularmente eu gosto muito do DJ Girl Talk. Cê pode inclusive baixar o terceiro álbum dele de graça (vou tentar colocar o link no final do texto se der tempo).

Eu demorei muito para ler, e nem cheguei a terminar, O Silmarillion, que seria algo como o Livro de Gênesis de Senhor dos Anéis, ou da Terra Média.

Resumindo o começo do mundo, tudo foi criado por um carinha chamado Eru (Deus) e seus “filhos”. Mas eles cantavam pra criar as coisas. O mal nesse universo surgiu porque um dos filhos mais poderosos passava tempo demais sozinho e admirando a escuridão e o vazio… daí ele desafinou a música e meio que transformou a obra perfeita em algo com partes ruins.

Enfim, isso é só a primeira parte e muito vem depois daí.

Mas eu quero chegar na parte onde eu digo que a sua/minha história é como uma música que acaba encontrando com outras músicas ao longo da vida e o resultado disso é uma nova melodia completamente diferente daquilo que se pretendia ou se imaginava.

Nem sempre um mashup fica perfeito, muitas vezes eles acabam se tornando famosos apenas em certos círculos. Muita gente critica porque os artistas de mashups não criam, eles transformam algo que já existe. O que não é necessariamente algo ruim, porque nossa história é exatamente isso, é pegar pedaços de coisas que já existem e formar algo novo.

Resumindo esse texto maluco: você é um pedaço de cada pessoa que já passou na sua vida, assim como cada um lá fora que já te encontrou carrega um pedaço seu.

Clique aqui para acessar a página de download do CD.

Vigésimo oitavo dia – Mil e oitocentos segundos

Alguma vez você já tentou falar sem parar por 60 segundos? Claro que pausas para respirar são permitidas. Certa vez, ainda na faculdade, me pediram para passar 1 minuto falando sem parar.

Para algumas pessoas isso pode parecer fácil, existem aquelas que realmente fariam com simplicidade esse exercício e até poderiam partir para tempos maiores. 120 segundos falando sem parar. 300 segundos de puro monólogo. Mas, acredite em mim, 1.800 segundos é muito tempo para se manter falando. Sozinho.

Vamos acrescentar algumas regras ao desafio. Você só pode tratar sobre acontecimentos dos últimos 10 anos. Somente boas memórias devem ser citadas. Escolha uma pessoa que tenha feito parte da sua vida durante esse período e ela deve estar relacionada de alguma forma com aquilo que você tem pra falar.

E você precisa fazer isso voluntariamente.

Hoje não tenho muito o que falar. Tenho usado o pouco que ainda me resta de sanidade e forças para tentar ser positivo. Mas é claro que isso só me deixa mais cansado.

Há alguns anos foi relativamente fácil transformar frustração em motivação para estudar. Hoje eu só consigo jogar e ouvir música.

Até para falar por 60 segundos é esperado uma pausa para pegar fôlego… acho que preciso parar e respirar.

Vigésimo sexto dia – Dormência

Ok, estou tentando voltar. Depois de quase duas semanas sem conseguir escrever nada não acadêmico.

Não quero ou não consigo dar explicações sobre o motivo.

Não é algo simples.

Ok, sabe quando você está acordando depois de uma noite de sono daquelas que derruba mesmo seus sentidos? Quando você precisa se esforçar para lembrar qual dia da semana?

Sabe a sensação de beber até as extremidades do seu corpo começarem a “sumir” dos seus sentidos? Conheço pessoas que deixam de sentir seus narizes…

Você alguma vez pulou em águas geladas, seja em Presidente Figueiredo, em rios ou lagos na Europa ou só numa manhã muito fria dos últimos tempos pelo resto do Brasil?

Para todas essas situações há alguma solução ou forma de fazer passar a dormência.

Você eventualmente fica sóbrio, pode se aquecer, simplesmente desperta, etc.

Mas e quando é o inverso? Quando você quer deixar de sentir? Quando você quer ficar no automático? Deixar de lembrar? E não pode…

Um dos eventos mais potencialmente destrutivos que eu conheço é o choque térmico. O encontro, sem equilíbrio ou preparação, de algo cuja temperatura/agitação de moléculas é gigante com outro algo onde a temperatura/agitação de moléculas é mínima.

E é assim que tô me sentindo.

A vontade de gritar é igual e inversamente proporcional aos momentos em que fico encarando o vazio… quase esperando que ele encare de volta.

Vigésimo quinto dia – Sobre pequenas superstições

Sabe aquele hábito de entrar num lugar primeiro com o pé direito, bater na madeira quando algo ruim é dito? Queria conversar um pouco sobre essas nossas crendices.

Pois é, por alguma razão que não me lembro ao certo, tenho uma superstição que gosto de destacar: acredito que qualquer coisa que aconteça pelo menos uma vez pode nunca mais se repetir, mas, se algo ocorrer duas vezes, é quase certeza uma terceira.

Recentemente ouvi isso novamente num podcast e voltou a sensação de que isso é uma verdade. Mesmo sem ter um fundamento científico, ou talvez até tenha e apenas não conheço…

O importante é que essas pequenas manias, atitudes, crenças, etc. nos movem e formam nossa personalidade.

São as despedidas com “vá/fique com Deus”, as nossas homenagens formais “queria agradecer primeiramente a Deus”, ou coisas menores como pedir orações para amigos/familiares doentes.

Acho interessante reconhecer essas coisas. Talvez me ajude a entender qual parte de mim ainda é religiosa. Ou qual parte de mim não é mais.

Vigésimo quarto dia – Pessoas normais

Toda vez que penso em Déficit de Atenção, com ou sem hiperatividade, ou Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou Transtorno de Ansiedade, é quase automático lembrar de um amigo que sempre cita o Bill, dos filmes do Tarantino, Kill Bill, especificamente no Vol. 2:

Em determinada cena, o personagem menciona que o seu super herói favorito é o Super Homem. Segundo este, os demais heróis se vestem para assumir o manto, menos o Super. Ele é o Super Homem o tempo todo, ele decide se vestir de Clark Kent, escolhe ser uma pessoa normal.

Essa ideia sempre surge quando imagino como deve se sentir uma pessoa normal. Como deve ser uma pessoa que não duvida de si mesmo o tempo todo, como deve ser uma pessoa que não se distai toda vez que o telefone toca na sala, etc.

Provavelmente não existem tantas assim no mundo, mas acreditar nisso costuma ser reconfortante.

Vigésimo terceiro dia – Formalidades

Tenho pensado sobre como trato as pessoas. Percebi que é bem comum usar “vossa senhoria”, ou chamar operadores do direito em geral de “doutor” (alguns de maneira íntima e descontraída), etc.

Hoje, bem como por boa parte deste final de semana, não sabia o que dizer ou escrever. Acho que é isso que os escritores profissionais chamam de “dar branco” ou “bloqueio criativo”.

As coisas não sumiram, não deixaram de ocorrer, na verdade até muito aconteceu. Eu só não sabia, e talvez ainda não saiba, como me expressar. E eu acho que essa é a razão pela qual as formalidades surgiram em minha vida.

Nunca realmente aprendi a falar com pessoas. Em muitos momentos ainda não sei o que dizer. Por isso chega a ser natural tratar todo mundo de maneira tão polida, é basicamente por falta de alternativa.

Chega a ser engraçado, mas também incômodo, como o meu jeito de falar com os outros é um ato, uma aparente defesa contra a minha insegurança e falta de capacidade social.

Quando você se deparar com uma situação que não saiba como resolver, seja formal.