A meia esquerda primeiro

Recentemente estive em um debate sobre o filme Whiplash e a forma como o filme retrata a obsessão do protagonista. Achei complicado como não se consegue deixar muito clara a mensagem negativa em determinados momentos, principalmente com aquele final “complicado”.

Vou logo adiantando que a parte musical do filme é excelente e não é sobre isso que quero falar.

Pra tentar ilustrar meu pensamento, imagine a seguinte situação: você está num churrasco em um sítio de amigos; você termina o seu prato e pergunta onde deixá-lo, o que é respondido com um “pode deixar na pia dentro da casa mesmo”; você, ao adentrar a cozinha, se depara com a louça de, pelo menos, mais umas quatro ou cinco pessoas; você já chegou lá com o ímpeto de lavar a sua parte, não existe isso de “só deixar na pia”. E aí?

Eu entendo o conceito de se esforçar, se dedicar, treinar, estudar, doar a si para uma causa, juro que entendo. Mas tocar bateria até a sua mão sangrar é algo além. É ruim. Poucas coisas boas realmente vão sair de uma situação dessas.

Um neurologista certa vez me contou o caso de uma paciente que, após arrumar e servir o café para o filho pequeno antes de levá-lo para a escola, começou a limpar a cozinha, mas não foi só lavar as peças utilizadas naquele desjejum, ela decidiu higienizar toda a cozinha. E simplesmente esqueceu de levar o guri para a aula.

Eu, em regra, não tenho mesmo um pensamento obsessivo. Tenho algumas manias aqui e atitudes padronizadas ali. Mas eventualmente as coisas simplesmente acontecem. E não existe uma opção de não fazer. Normalmente isso se agrava em episódios de ansiedade.

No ensino médio, um garoto do mesmo ano, mas de outra turma, tinha uma dependência por companhia. Ele simplesmente não conseguia ficar sozinho. Perguntei o que aconteceria caso ele ficasse sem ninguém conhecido no ônibus ou algo assim e ele me respondeu que ele puxava assunto com qualquer pessoa.

Até onde me cabe opinar, acredito que coisas que trazem prejuízo de alguma forma para a sua vida precisam ser melhor estudadas, mas aquelas atitudes que não trazem nenhum efeito negativo direto não são exatamente ruins. No filme Mais Estranho que a Ficção, o protagonista conta quantas vezes ele escova cada dente, além de seguir exatamente o mesmo padrão de escovação. Isso realmente não traz nenhuma conotação nociva ao personagem além de fazer parecer que a vida dele segue regras bem específicas.

Bom, o assunto é muito profundo para realmente conseguir tratar só por aqui. Só queria deixar claro que, assim como existe uma preocupação sobre como se deve retratar suicídio, outros problemas mentais também precisam de uma devida atenção.

Ah, só pra deixar claro: lavei toda a louça na cozinha do sítio.

PS.: Acabamos de completar 130 textos publicados!

Autor: Elisnei

Servidor Público. Escritor amador. Curioso e fã de tecnologia.

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