Bom, queria uma boa razão para voltar.
Tive várias com os acontecimentos das eleições, mas igualmente numerosos foram os passos que recuei.
Enfim, voltei para falar sobre o dia da consciência negra. Mas não é exatamente minha dor e eu certamente não tentaria me sobrepor aos que já lutam há séculos.
É importante dar voz aos que lutam pelos seus direitos, poderíamos dizer que é mais importante que tentar falar por eles… né? Pensando nisso, decidi que a maior parte desse texto será uma transcrição do famoso discurso de Martin Luther King Jr:
“Há cem anos, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um grande raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para pôr fim à longa noite de cativeiro.
Mas, cem anos mais tarde, devemos encarar a trágica realidade de que o negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro está ainda infelizmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação.
(…)
Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: ‘Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.’
(…)
Eu tenho um sonho que um dia ‘todos os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas; os lugares mais acidentados se tornarão planícies e os lugares tortuosos se tornarão retos e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão conjuntamente’.
(…)
Que a liberdade ressoe de cada montanha e de cada pequena elevação do Mississippi. Que de cada encosta a liberdade ressoe.
E quando isso acontecer, quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada lugar, de cada estado e cada cidade, seremos capazes de fazer chegar mais rápido o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção espiritual negra:
Finalmente livres! Finalmente livres!
Graças a Deus Todo Poderoso, somos livres, finalmente.”
E, para encerrar, aos que acreditam que o debate sobre racismo ou outras pautas ditas de minorias não tem espaço numa luta de classes, deixo uma simples afirmação da filósofa Djamila Ribeiro, em seu livro “O que é lugar de fala”:
“Ainda é muito comum se dizer que o feminismo negro traz cisões ou separações, quando é justamente o contrário. Ao nomear as opressões de raça, classe e gênero, entende-se a necessidade de não hierarquizar opressões.”
Luto é verbo.
Seguimos.